Santiago de Compostela é um dos destinos de peregrinação cristã mais importantes do mundo sendo apenas ultrapassado por Roma e Jerusalém. Devido a este facto, são inúmeros os caminhos de peregrinação por toda a Europa que chegam a Santiago. Segundo estatísticas da Oficina do Peregrino o mais percorrido é o Caminho Francês seguido do Caminho Português Central (em 2018 foram 67 822 os peregrinos a fazerem este caminho).
Informações Úteis
Localização: Santiago de Compostela (Espanha)
População: 95 966 (2016)
Área Total: 220 km²
Língua Oficial: Espanhol (Galego)
Moeda Oficial: Euro (€)
Fuso de Horário: UTC+1
Código Telefónico Internacional: +34
Coordenadas: 42° 52′ N 8° 31′ O
Site: www.santiagodecompostela.org
Data da viagem: 25 a 28 de abril de 2019zzzzzzzzzzzzzzz

Esta tradição dos caminhos de Santiago teve inicio há mais de 1000 anos com a descoberta do tumulo do Apóstolo Santiago Maior. Foi esta descoberta que levou à construção da Catedral que conhecemos atualmente e ao desenvolvimento da cidade de Santiago de Compostela.
O caminho português de Santiago inicia-se em Lisboa (se bem que pode ser percorrido desde Faro) com um total de cerca de 625 km. No entanto, devido à falta de albergues públicos municipais entre Lisboa e Porto, o mais comum é iniciar o caminho no Porto (240 km), em Valença do Minho (120 km) ou em Tuí (110 km).
Chegados à Praça do Obradoiro (praça principal junto à catedral) é possível levantar a Compostela – certificado passado pela oficina do peregrino que comprova que o peregrino cumpriu o caminho de Santiago.
Para ter acesso à Compostela são necessários alguns requisitos:
– Ter percorrido os últimos 100 km até Santiago de Compostela a pé ou a cavalo. No caso da bicicleta terão que ser os últimos 200 km. Posto isto, para o caminho português, Tuí é o último sitio de onde podemos sair a pé e o Porto se sairmos de bicicleta.
– Possuir a Credencial do Peregrino devidamente carimbada. Todos os dias temos que ter, pelo menos, dois carimbos dos locais por onde passamos. No nosso caso não tivemos dificuldade com esta parte porque todos os cafés, restaurantes, albergues e hotéis possuem carimbo para este efeito. São estes carimbos que fazem prova dos quilómetros percorridos.
Depois de chegados a Santiago é só ir à Oficina do Peregrino e requisitar a Compostela. Aconselhamos a planearem o vosso caminho de forma a chegarem cedo porque as filas para a obtenção de Compostela chegam a demorar 3 horas.
“Travel isn’t always comfortable. Sometimes it hurts, it evens breaks your heart. But that’s okay. The journey changes you – it should change you. It leaves marks on your memory, on your consciousness, on your heart and your body. But in the end, it isn’t about the things you take with you, but what you leave behind.”

onde ficar hospedado
Nome do Hotel: Quinta do Caminho
Morada: Caminho Municipal Pedreira – Campo da Ponte e do Rio e da Horta Pedreira, 4930-107 Valença, Portugal
Preço por noite: 40€ (pequeno-almoço incluído)
Nome do Hotel: Hotel Santo Apostolo
Morada: Souto Xusto, 9 REDONDELA 36810 (Pontevedra)
Nome do Hotel: Casa Rural Os Carballos
Morada: Outeiro 26 PERDECANAI , 36194 Pontevedra, Espanha
Preço por noite: 40€ (pequeno-almoço incluído
Nome do Hotel: Agro da Gandarela
Morada: Lugar de Ínsua, 72 Luou, 15883 Teo, Espanha
Preço por noite: 55€ (pequeno-almoço incluído)
Roteiro
Não tínhamos nenhuma promessa ou obrigação para fazer o caminho. Não tínhamos tempo suficiente para começar no Porto mas queríamos começar em Portugal e, por isso, optamos por iniciar o caminho em Valença, mais propriamente em Cerdal na Quinta do Caminho. O caminho está muito bem sinalizado, sendo muito difícil alguém se perder. Existem vários tipos de marcações: setas amarelas pintadas, conchas de vieira amarelas com fundo azul e existem ainda marcos em pedra que assinalam os quilómetros que restam até Santiago.

Dia 1 (Cerdal – Mós, aproximadamente 30 km)
Começamos a andar no dia 25 de abril e entre chuva e algumas abertas completamos a primeira etapa ao chegar a Mós. Após quase 30 quilómetros a andar até ao primeiro albergue, disseram que não haviam camas para nós. Dás por ti no meio do nada, com as primeiras dores a aparecerem, cansado, com fome e molhado da chuva e não podes fazer mais nada a não ser andar mais 4 quilómetros (1 hora) até ao próximo albergue para no final, levar com outro não e um cenário negativo de que não conseguiríamos arranjar nada nas proximidades. Tivemos que acabar por recorrer a um hotel mais afastado e alugar um táxi para lá chegar. Chegamos ao hotel depois das 19 horas, tivemos apenas tempo para tomar banho e jantar antes de nos deitarmos para descansar. Neste primeiro dia, surgiram logo as primeiras bolhas nos pés e incríveis dores musculares e nas articulações.
Dia 2 (Arcade – Caldas de Reis, aproximadamente 30 km)
O percalço do dia anterior fez-nos avançar 20 km no caminho de táxi e, podem julgar-nos mas não voltamos atrás no dia seguinte, tais eram as dores e o pouco descanso que tínhamos tido. Decidimos continuar a partir do hotel o que no final, nos fez terminar o caminho um dia mais cedo. Esta etapa desenvolve-se mais em ambiente de campo e natureza comparativamente com a primeira etapa que é feita mais em estrada. Neste dia não quisemos correr o risco do dia anterior até porque nos fomos apercebendo que eram muitos os peregrinos a fazer o caminho connosco. Por isso, na hora de almoço decidimos logo quantos mais quilómetros faríamos, procuramos alojamento no booking e efetuamos logo a reserva via telemóvel. Neste dia conseguimos chegar ao hotel mais cedo, pelas 18h.


Dia 3 (Caldas de Reis – Téo, aproximadamente 30 km)
Esta manhã foi a mais difícil de todas. O percurso tem várias descidas e subidas que em nada favorecem as nossas articulações e, foi nesta manhã que mais pensei desistir. Apeteceu-me várias vezes chamar um táxi mas não o fiz. Chegamos a Padrón, almoçamos num restaurante muito simpático com uma bonita vista sobre o rio e foi o suficiente para ganhar energia para mais 15 km durante a tarde. Chegamos ao hotel pelas 19horas e, mais uma vez, tivemos apenas tempo para jantar e um banho. Desta vez a noite foi melhor porque trazia a sensação de estarmos perto, muito perto do destino final.

Dia 4 (Téo – Santiago de Compostela, aproximadamente 14 km)
Eu já sabia que a mente tem um poder muito importante nisto do exercício físico, mas neste dia tive a certeza. A vontade de chegar, a ânsia de saber que eram os quilómetros finais permitiram percorrer este últimos sem uma única pausa. Em 3 horas cumprimos a etapa e chegamos a Santiago pouco antes da hora da missa do peregrino (12h00). Depois do almoço pensei que as pernas se iriam ressentir do cansaço mas, pelo contrário, a adrenalina de termos chegado ao fim manteve-se pelo resto do dia e só terminou em Braga com uma bela francesinha na Taberna Belga!

a mochila e outras informações
Atualmente já existem empresas que prestam o serviço de transfer de bagagem entre as várias etapas do caminho e até reservam alojamento, se necessário. Este serviço de transfer consiste em ter um carro de apoio que leva a nossa bagagem/mochila até ao próximo alojamento e, desta forma, podemos caminhar sem carga.
No nosso caso, quisemos fazer tudo “à moda antiga” e por isso, carregamos a nossa própria mochila ao longo dos cerca de 110 km que andamos. Nestes casos, a preparação da mochila é, na nossa opinião, a parte mais importante a ter em consideração na preparação do caminho visto que nem sempre é fácil obter o equilíbrio entre aquilo é necessário levarmos e o peso que isso significará. Os especialistas recomendam que o peso da mochila não ultrapasse os 10% do peso corporal do peregrino. Na nossa opinião, mesmo os 10% é muito peso. Não se esqueçam que colocarem a mochila aos ombros em vossa casa é completamente diferente de a carregar 100 km. Em casa tudo nos parece aceitável e confortável.
Assim sendo, aqui fica a lista daquilo que achamos imprescindível na mochila do peregrino:
- Credencial do Peregrino e documentos de identificação necessários;
- Dinheiro em cash (ao levantar em Espanha pagarão comissões);
- Concha de vieira pendurada na mochila (é a imagem de marca do peregrino e compra-se facilmente ao longo do caminho);
- Saco-cama (já existem versões pequeninas e leves mais fáceis de transportar. Não se esqueçam, quanto mais leve melhor!);
- Toalha de banho em microfibra (são mais leves e fininhas);
- Chinelos para banho (e porque ao fim do dia vai ser ótimo andar com os pés ao ar, acreditem);
- 2 calças ou calcões confortáveis (andamos com um par e vamos lavando e alternando com o outro par);
- 2 t-shirts de manga curta (na mesma lógica das calças);
- 1 camisola de manga comprida (se houver necessidade);
- 1 casaco fino, de preferência corta-vento (porque de manhã cedo faz frio);
- Roupa interior (incluir meias especificas anti-bolhas);
- Botas de caminhada e outro par suplente (sapatilhas de desporto, por exemplo). O calçado NUNCA deve ser novo. Deve estar já bastante usado e que vocês saibam ser confortável;
- Capa de chuva (de preferência tipo poncho, porque facilmente retiram e colocam);
- Tampões para ouvidos e venda para olhos (caso a vossa vontade seja ficar em albergues, para proteger do barulho e claridade dos outros peregrinos);
- Garrafa de água (de 0,5 litros e vão enchendo durante o caminho);
- Telemóvel e respetivo carregador;
- Protetor solar e protetor de cieiro;
- 1 embalagem pequena de toalhitas húmidas;
- Lenços de papel;
- Saco para recolher lixo e guardar roupa suja;
- 2 molas para estender possível roupa molhada na mochila;
- Estojo com produtos de higiene pessoal;
- Pó de talco para os pés molhados/suados;
- Estojo de primeiros socorros com: algumas compressas, unidose de betadine, agulha e linha de costura, isqueiro, tesoura pequena, pensos rápidos, gel para dores musculares e nas articulações, creme antifricção, ben-u-ron, brufen e voltaren.
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Últimas dicas:
Como referimos, fizemos bolhas logo na primeira etapa. Possivelmente pelo tempo de chuva e por termos feito imensos quilómetros. Para quem está a pensar fazer os caminhos, na nossa opinião, as bolhas serão o menor dos problemas se forem bem tratadas. E como tratamento recomendamos muito uma técnica que nos foi ensinada por uma peregrina e que consiste em furar a bolha de um lado ao outro com uma agulha enfiada com linha de costura. Depois dão um nó com as pontas da linha, desinfetam com betadine e deixam ficar assim. Desta forma, a linha impedirá que a bolha volte a fechar e a rebentar posteriormente durante o caminho. O isqueiro que levam servirá para “esterilizar” a agulha antes da utilização. Sim, parecem técnicas do tempo do paleolítico e super nojentas mas acreditem que vai ajudar muito. E não, não dói nada porque a pele da bolha não tem sensibilidade. O creme antifricção é também muito importante e devem começar a colocar alguns dias antes do inicio do caminho em tudo o que sejam dobras sujeitas a fricção durante o caminho.
Coisas que faríamos diferentes?
E se voltássemos agora? Faríamos tudo igual?
Claro que não! Depois da experiencia que tivemos com os albergues, se voltássemos não levaríamos saco-cama nem toalha de banho. Desta vez levamos e acabamos por nunca usar. Acho que numa próxima preferimos continuar a reservar hostels ou pensões no próprio dia da etapa. Até porque, na nossa opinião, é também muito bom ter uma casa de banho privada só para nós.
Se fossemos novamente, iriamos também com mais tempo, para podermos dividir as etapas em mais dias. Com isto, não ficaríamos tão cansados e provavelmente ainda teríamos alguma energia para depois explorar um pouco as cidades por onde passamos. Acreditamos que 20 quilómetros por dia seria o ideal para aproveitar melhor o caminho.
Em resumo…
Não tenham receios ou medos. Vão! Divirtam-se! Aproveitem o caminho! Saibam que muitas vezes precisamos de nos perder para nos encontrarmos verdadeiramente. O caminho vai trazer-vos experiencias incríveis, pessoas de todos os lados do mundo e todas com o mesmo objetivo: chegar a Santiago.
